segunda-feira, 22 de setembro de 2014

( Baqrcelona - Espanha ) Manifesto do Ateneu Okupado l’Entrebanc.

Em Barcelona continua a okupação de antigas dependências bancárias e a sua transformação em Centros Sociais e em Ateneus, profundamente ligados à vida dos bairros. Neste momento são já oito os bancos transformados em espaços alternativos e é um movimento que tem tudo para continuar. Para dar um pouco do ambiente que se vive em Barcelona traduzimos o Manifesto de um destes espaços alternativos  – o Ateneu l’Entrebanc. Para quando experiências destas a germinarem nas principais cidades portuguesas?

Manifesto

Que é que se passa aqui?
Vivemos numa cidade que se afoga em contradições. Enquanto certas pessoas ficam sem casa onde viver, Barcelona tem mais de oitenta mil casas vazias; enquanto há gente que passa fome, em Barcelona desperdiça-se um terço dos alimentos produzidos; enquanto que o ar que respiramos é cada vez é mais sujo e irrespirável, em Barcelona não se fazem parques nem espaços verdes, mas sim placas de cimento; enquanto que os colectivos de bairro dificilmente dispõem de espaços de encontro, Barcelona e em concreto o nosso bairro, o Eixample, está cheio de locais vazios e abandonados. Como o espaço da rua Urgell 98, que ultimamente se encontrava em desuso.
Vivemos num bairro onde ninguém se conhece, feito e desenhado para separar as pessoas em vez de uni-las, um bairro separado pelo asfalto e pelos carros, feito intencionalmente para gerar individualismo e desconfiança, impedir o tecido social da vizinhança em se desenvolver e isolar as pessoas nas suas próprias casas. Um bairro onde o espaço público já não é público, senão apenas uma mera zona de passagem como o corredor de um aeroporto, um bairro que não nos acolhe e que, em vez disso, nos abandona na nuvem do anonimato e nos torna mais vulneráveis, tristes.
Por tudo isso, e muito mais, as pessoas consideram que já chega. É desta reflexão que nasce o Ateneu l’Entrebanc.

O que é o Ateneu l’Entrebanc?
O Ateneu l’Entrebanc concebe-se como um espaço social, cultural e político dirigido à luta dos vizinhos. Trata-se de um ponto de encontro de vizinhas e vizinhos, movimentos sociais, associações, cooperativas e assembleias diversas que queiram participar. Neste sentido, é um espaço aberto e inclusivo, onde cabem todo o tipo de sensibilidades, actividades, ideologias e idades, sendo a horizontalidade e a autogestão a base que nos reúne.
O objectivo é criar uma rede de vizinhança e alimentar as redes de ajuda mútua. Simultaneamente, quer-se dar espaço às iniciativas que nos motivam e inquietam enquanto vizinhos. Seguindo este rumo, o Ateneu não será um bar ou uma casa de habitação, mas sim um local de encontro da luta social, com as suas vertentes organizativas, didácticas e lúdicas. A forma e os conteúdos serão construidos de forma colectiva, para satisfazer as nossas necessidades de forma popular, buscando alternativas baseadas nas pessoas e no respeito pela natureza.

Porquê um banco?
 Desde que começou a crise, há quase seis anos atrás, o estado espanhol distribuiu 21.000 milhões de euros sem garantias a diferentes entidades bancárias. Essas mesmas entidades que provocaram a crise e continuam a promover a miséria social que nos rodeia e que se agrava todos os dias. Destes milhares de euros públicos, o Banco Mare Nostrum, um conglomerado de bancos em bancarrota e proprietário de Urgell 98, recebeu 915 milhões de euros, o que representa 4,3% do total. Entretanto, neste mesmo período foram cortados 7.000 milhões de euros no sector da saúde e 3.000 milhões de euros no sector educativo. Contudo, alguns diziam que não havia dinheiro, que vivíamos acima das nossas possibilidades.
Quando o Estado não resolve os problemas dos cidadãos e, muito pelo contrário, prejudica-nos para favorecer os bancos, a única opção é actuar para mudar a nossa realidade enquanto seres humanos. É por isso que a expropriação bancária pode ser-nos útil para devolver ao povo aquilo que é dele. Um espaço abandonado por um banco que recebeu dinheiro público só pode ser concebido como um espaço público ao alcance de toda a gente. Um espaço recuperado, para nos libertarmos da escravidão do capitalismo e nos auto-organizarmos. Um espaço social, um ponto de encontro neste bairro tão dividido e solitário. É por este motivo que este espaço deve ser gerido e aproveitado por todos e todas

.Como funciona o espaço?
Dado que se trata de um espaço aberto, a sua gestão será feita pelas pessoas enquanto tal. Se tiveres qualquer dúvida, pergunta a alguém que já participe há mais tempo. As diversas explicações, necessidades e tarefas por fazer estão afixadas nas paredes do Ateneu.
Toda a gente pode fazer as tarefas que mais lhe agradem e colaborar nas actividades que preferir. O único que se pede em troca é que tu dês aquilo que pretendes receber. Se toda a gente participar nas actividades, na elaboração das mesmas e na gestão do espaço, o dinamismo do Ateneu está assegurado. As decisões são tomadas em Assembleia às terças-feiras às 20h e quem quiser pode assistir.
Dado que consideramos que a economia deverá estar ao serviço das pessoas e não o contrário, como acontece agora, tentaremos funcionar sem dinheiro na medida do possível. Apesar de tudo, há materiais que não podemos produzir nem obter através da troca e portanto, nalgumas situações, a solidariedade económica poderá ajudar alguns projectos a ganharem vida.
O local estará aberto de segunda a sexta-feira, das 18h às 21h, ampliando-se o horário em função da disponibilidade das pessoas e colectivos, ou para realizar actividades extra-ordinárias. Desta forma, se o projecto vos interessar podem vir fazer uma visita, consultar a página web ou enviar um mail.

Bem vindos e até sempre!

Ateneu L’Entrebanc

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