A ocupação Villa Amalias, que existia há 23 anos, foi tomada
pela polícia durante a semana; governo grego prevê outras 40
desocupações
Os 93 anarquistas gregos presos após a desocupação do centro Villa Amalias, em Atenas, foram liberados neste sábado (12/1) pela polícia, mas fichados e proibidos de deixar o país até que sejam julgados por abuso, alteração de ordem pública e resistência à autoridade. Os supostos delitos foram classificados como “delinquência grave” pela Justiça grega, de acordo com a mesma lei que proíbe manifestantes de cobrirem o rosto.
A ocupação Villa Amalias existia há 23 anos no centro de Atenas. O prédio, do século XIX, fica entre as estações Omonia e Agios Panteleimona do metrô, e era utilizado pelos anarquistas como base para ações contra grupos neonazistas ligados ao partido Aurora Dourada, que operam na região. Os membros da ocupação faziam sopões e ofertavam cursos gratuitos de teatro, dança e idiomas, especialmente para imigrantes.
A primeira investida policial em mais de duas décadas contra o Villa
Amalias aconteceu no dia 20 de dezembro, com base em uma denúncia
anônima, quando soldados entraram na ocupação e prenderam oito pessoas.
Na semana passada, membros do grupo anarquista decidiram retomar o
prédio, que continuava vazio. A polícia reagiu com bombas de gás
lacrimogêneo e deteve 101 pessoas.
De acordo com a rede grega independente RBNews, o Ministério da Ordem
Pública da Grécia pretende desalojar outras 40 ocupações anarquistas em
todo o país. O prédio onde estava o Villa Amalias é alvo de uma disputa
judicial entre a Prefeitura de Atenas e uma organização municipal de
escolas, que será dissolvida por ordem do memorando do FMI (Fundo
Monetário Internacional), aprovado pelo Parlamento grego em novembro do
ano passado.
A construção, encontrada pelos anarquistas em estado “lastimável”, ainda
em 1990, tem ótima localização e deve ser vendida em um futuro próximo,
abrindo caminho para a especulação imobiliária. Outra ocupação
anarquista, a Skaramaga, também foi evacuada pela polícia e oito pessoas
acabaram presas. Na casa havia biblioteca, sala de leitura, oficinas de
conserto de bicicletas, oficinas de costura e carpintaria.
Protestos
Cerca de 10 mil pessoas protestaram neste sábado em Atenas contra as
desocupações de centros anarquistas, conhecidas pelos gregos como
“okupas”. Grupos também foram às ruas em outras cidades, como
Tessalônica e Giannina. A UAF (União Antifascista) do Reino Unido
planeja um protesto em frente à embaixada grega em Londres para o dia 19
de janeiro.
O principal alvo dos anarquistas é o partido neonazista Aurora Dourada,
que nas últimas eleições obteve 18 cadeiras no Parlamento grego. Seus
deputados pregam uma Grécia “pura” e “livre” de imigrantes, os quais são
apontados como culpados pela crise econômica que o país atravessa.
Na última sondagem da Elstat, a agência oficial de estatísticas da
Grécia registrou um total de 1,3 milhão de gregos estão sem trabalho, ou
26,8% da população. O índice, que bate recorde após recorde há pelo
menos quatro anos, é o pior de toda a Europa.
Os indicadores mais preocupantes continuam sendo os de desemprego entre
jovens de 15 a 24 anos, que também bateram recorde. Em outubro, 56,6%
dos jovens estavam desempregados e sem perspectivas. Na camada entre 25 a
34 anos, 34,1% estão sem trabalho.
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