Em 18 de janeiro de 2015 um grupo de umas oitenta
pessoas procedeu a reocupação da okupa Antibiosi na cidade de Ioánnina. A
okupa esteve em funcionamento desde 2008 até 29 de agosto de 2013,
data em que foi desalojada pelas forças repressivas do Estado grego. A
seguir publicamos o texto do cartaz que se colou nas paredes da cidade
depois da reocupação, assim como o texto do comunicado da ocupa sobre
sua reocupação.
O texto do cartaz:
Estamos aqui, porque nossas ideias e nossos valores nunca foram
desalojados. As lutas contra o Poder estarão sempre sendo confrontadas a
seus planos vorazes. Os que acreditam que haviam acabado conosco estão
equivocados.
Okupa Antibiosi
O texto do comunicado:
Desde que o ser humano começou a usar a terra para fins de lucro e
para beneficiar-se dela, e não para a satisfação das necessidades
coletivas, apareceu o conceito da propriedade, a qual, a seguir, aparte
da terra se estendeu aos bens, os edifícios, os meios de produção, e
inclusive as pessoas. Foi delimitada com fronteiras imaginárias ou
existentes, e os que as possuíam a defenderam usando todas as formas de
violência possíveis. Através da propriedade se faz possível a acumulação
da riqueza e do Poder, se faz possível a criação de uma sociedade
baseada na desigualdade e dividida em classes, a dos potentes e dos
débeis, a dos opressores e a dos oprimidos, a dos privilegiados e a dos
não privilegiados. Desta maneira, o conceito da propriedade é a
estrutura fundamental do sistema capitalista.
Para proteger (salvaguardar) esta acumulação de riqueza e de Poder, o
Estado se vale de vários mecanismos de reativação do pensamento e da
ação da sociedade. Sobretudo através da educação, da religião, do
exército e da constante propaganda dos meios de desinformação massivos,
trata de criar pessoas disciplinadas e obedientes, que não se apartam
dos ideais nacionalistas, militaristas, racistas, religiosos, de gênero e
sexistas, tendo como objetivo de retaguarda que a vida destas pessoas
seja concordante com as expectativas predominantes, que atuem de uma
maneira individualista, que sejam produtivas, que estejam ajoelhadas
diante do patrão, e que nunca ponham em dúvida este sistema de
hierarquização das vidas humanas. Contra qualquer pessoa que não se
conforma com este modelo de vida e que reaciona, para qualquer pessoa
que não queira ser nem opressor nem oprimido, e que luta contra esta
forma capitalista da sociedade, vem os mecanismos repressivos mais
vingativos do Estado: a Polícia, os juízes e as prisões, normais ou “de
segurança máxima”.
Nós, considerando que somos segmentos lutadores da sociedade contra
tudo isto, não podemos deixar de questionar ativamente o conceito da
propriedade. Portanto, optamos por proceder a uma ocupação na qual
podemos albergar e satisfazer diariamente nossas necessidades e desejos,
opondo-nos à condição capitalista. Estas necessidades são o alojamento
tanto de pessoas como de coletivos ou grupos que necessitem articular
discurso e celebrar eventos e ações hostis a estrutura existente da
sociedade e do Estado. Para nós é premente a necessidade da existência
de um lugar no qual possam coexistir as pessoas que se vejam afetadas
desta ofensiva, e que a sua vez lutam contra o Sistema e contra todas as
formas de exploração e de Poder. Portanto, não queremos que esta
ocupação seja utilizada como um oásis da liberdade artificial, ou só
pelas que vivam nela, senão um centro de luta que tenha interação diária
com o bairro e a comunidade local, cujo objetivo seja a liberação
individual e social.
Através desta ocupação, queremos propor o modo de vida coletivo entre
companheiros, que seja dos andares e apartamentos – jaulas que nos
mantém afastados, a solidariedade entre os oprimidos frente o
individualismo, e a auto-organização de nossos processos e nossas lutas,
sem nenhum tipo de hierarquia, delegação e mediadores. Queremos fazer
frente às relações mercantis e a lógica do benefício, que alienam nossa
vida. Não queremos que a existência humana seja avaliada em função da
origem das pessoas, de seu sexo, de seu aspecto físico, de sua
sexualidade, de sua educação ou de suas habilidades, pelo que qualquer
comportamento racista, sexista ou próprio de um líder, não vai ter
espaço nesta ocupação.
Em uma tentativa de vários companheiros e companheiras de recuperar o
tempo e o espaço perdidos, optamos por prosseguir à reocupação do
edifício do velho hospital “Hatzikosta”, onde durante cinco anos havia
estado albergada a okupa Antibiosi até 29 de agosto de 2013, a qual foi
desalojada dentro de um ambiente de repressão de muitas okupas a nível
nacional, sendo postas no centro das atenções como “focos de
ilegalidade”. Apesar dos despejos deixarem para trás edifícios
em ruínas, não conseguiram eliminar o significado das relações sociais
que se desenvolveram dentro deles, e o qual constitui o ponto de partida
para a criação de novos projetos. Não nos preocupam as várias
declarações sobre o aproveitamento dos edifícios do velho hospital
“Hatzikosta” como um centro de saúde-modelo, como creche ou como
escritórios de administração, nem os jogos políticos de sensacionalismo,
expressados como um discurso direitista ou esquerdista. Em particular,
nesta conjuntura, não nos importa quem tem em suas mãos o Poder. Nós
estamos frente ao Estado, aos capitalistas e a seus servos, e
continuamos lutando contra eles.
Antibiosi seguirá sendo uma okupa!
Fonte:
noticiasanarquistas.noblogs.org/page/3/