domingo, 5 de janeiro de 2014



“Ocupámos um espaço vazio”. Esta frase, por si só, é uma justificação tal que até uma criança a pode entender. Para se desviar de fundamentações simplistas, interpõem-se frequentemente tanto argumentos falsos como éticas espúrias úteis só para reproduzir o esquema servos e senhores.
Qualquer espaço abandonado é uma cuspidela na cara de todxs xs que não têm um teto, sítio onde se expressar e comunicar ou que se vêm forçadxs ao círculo vicioso dos guetos urbanos.
Por trás de cada espaço vazio há um projeto de especulação, um objetivo de lucro, um interesse negocial que prefere ruínas e desolação a perder dinheiro e previlégios.
Não se mendiga a liberdade com pedidos, a liberdade toma-se, caso contrário não se consideraria como tal mas uma simples concessão. Demasiado acostumadxs a mendigar migalhas ao Estado, do qual somos somente dependentes e inofensivxs súbditos, devemos deixar de ser como crianças de colo e começar a caminhar com as nossas próprias pernas para agarrar os nossos desejos.
Temos necessidade de afinar a nossa crítica social e de experimentar percursos alternativos ao sistema do Estado e do capital, temos o desejo de tecer relações sociais livres dos paradigmas dominantes e da mercantilização do existente, para retomar as rédeas da nossa vida. Não nos voltamos para um tecido urbano hostil – que não queremos catequizar ou recrutar – para continuar a cultura da delegação, mas para começarmos, primeiro, por nos aventurar fora da selva política convencional, seguindo precursos de auto-organização das nossas vidas, ansiando a reprodutibilidade das dinâmicas autogestionárias.
“A autogestão é a possibilidade de estabelecer as normas da nossa existência, segundo os princípios da responsabilidade individual e do método da unanimidade (não de certeza o democrático – da maioria). A autogestão, a fim de oferecer a possibilidade de reunificar esferas separadas da experiência humana: pensamento e ação, atividade manual e atividade intelectual, para reconquistar a completude que nos foi subtraída pela especialização da atividade, imposto pela cultura do poder “. A prática da ocupação faz sentido enquanto elaboração coletiva de uma estratégia útil para não se adaptar à integração na sociedade, para retirar uma identidade formal ou para se isolar num gueto.
Entendemos ser um bom método, para  subverter a alienação imposta, combinar a autogestão material com um constante apoio ao ataque à sociedade, através dos instrumentos da ação directa (da sabotagem, do boicote, da contra informação,etc., etc.) – longe dos cada vez mais reduzidos e limitados âmbitos da legalidade – para não se  fossilizar na autogestão da miséria, reproduzida nos centros sociais dedicados à prestacção de serviços e entretenimento cultural.
Ansiamos, pois, pela ação directa, para criar e expandir a crise do sistema de exploração assim como pela autogestão generalizada, para a enfrentar e para nos apoiar, durante a difícil conjuntura que o futuro nos promete.
Consideramos a ocupação, por conseguinte, não como um objetivo a alcançar para nos estagnar, antes como um instrumento útil para experimentar e aplicar as armas da crítica à sociedade.

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